sábado, 24 de setembro de 2011

O Sabor das Coisas


 A vida tem um sabor agridoce
que tempera tudo quanto se sente.
Não há nada que não tenha sabor:
mais quente, mais amargo e já sem cor,
mais doce e mais frio, paixão ardente.

Quantas vezes os sabores se confundem
nessa pressa que tem a alma errante
em beber com sofreguidão a vida,
como se outra houvesse escondida
e nem uma e outra fosse importante.

Que sabor tem uma nobre mentira
nos lábios que mentindo a dor matou?
Terá ela na boca o mesmo gosto
de alguém que mentindo fecha no rosto
o prazer da verdade que ocultou?

A que sabe o amor de uma paixão
nos versos de um beijo feito sonata?
Tem sabores de alegria e tristeza,
é chama que torna forte a fraqueza,
para uns fogo que queima, outros mata!

Cada um de nós é sal no tempero
que torna doce a vida, amarga a morte.
Tudo o mais é cuidado ao provar...
Mais vale ter um gosto singular
se a vida nos reserva a mesma sorte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fados Imperfeitos (IV)


Todos os dias há flores a nascer
onde a terra é virgem, seca, sem cor,
entre as pedras de uma estrada qualquer...
Pouco importa onde nasce o amor.


Tantas cores têm elas ao sorrir,
que inveja tenho eu dessa beleza!
Quem dera que pudessem colorir
na alma esta minha nobre tristeza.

Todos os dias são mil estas flores,
mas por que nascem tão longe de mim?
Quem dera fossem elas meus amores
que eu pudesse abraçar até ao fim.