que tempera tudo quanto se sente.
Não há nada que não tenha sabor:
mais quente, mais amargo e já sem cor,
mais doce e mais frio, paixão ardente.
Quantas vezes os sabores se confundem
nessa pressa que tem a alma errante
em beber com sofreguidão a vida,
como se outra houvesse escondida
e nem uma e outra fosse importante.
Que sabor tem uma nobre mentira
nos lábios que mentindo a dor matou?
Terá ela na boca o mesmo gosto
de alguém que mentindo fecha no rosto
o prazer da verdade que ocultou?
A que sabe o amor de uma paixão
nos versos de um beijo feito sonata?
Tem sabores de alegria e tristeza,
é chama que torna forte a fraqueza,
para uns fogo que queima, outros mata!
Cada um de nós é sal no tempero
que torna doce a vida, amarga a morte.
Tudo o mais é cuidado ao provar...
Mais vale ter um gosto singular
se a vida nos reserva a mesma sorte.