quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ausência


A minha ausência
ainda não tem na tua boca
o sabor das madrugadas
onde o teu corpo me procurasse,
e o vento nos libertasse
esse grito em nós contido
do fogo que arde e não queima
o segredo que em nós teima
nascer a morrer proibído.

Eu passo em ti
como passa o vento
nos ramos da flor selvagem:
depressa,
devagar,
por um momento,
às vezes nunca...

Mas desejo ser a tempestade
nas tuas lágrimas desfeita,
ser a espuma em liberdade
e à tua pele pertencer,
ser o suspiro dessa noite ao luar
e ser o nada nos teus sonhos a voar,
ou apenas ser...

Eu ainda não nasci dentro de ti,
no entanto, já te pertenço!...

E vives o teu tempo
onde sem tempo
me esqueceste,
e chorará a tua ternura
a minha ausência
se sentires, porventura,
que me perdeste.

domingo, 28 de dezembro de 2008

As Marés de Um Amor (im)Perfeito


Lembras-te de mim parado
nas margens desse rio,
qual barco de remos cansado
nas águas beijando o frio
do Outono que em silêncio nascia
nessa brisa como um manto de carinho?


E por que foi que o teu olhar
me queimou os pensamentos
e o calor do teu sorriso
me consumiu os momentos
onde nunca desejei te encontrar,
meu pecado?
Como foi que conseguiste
que as marés se tornassem mais fortes
e ao meu lugar de sempre
me tivesses roubado?...

Empurraste-me para o alto mar
nas ondas dos teus cabelos
por onde fugi gritando essa alegria
que nos meus lábios os teus beijos queimaram
e as tuas mãos nas minhas incendiaram
o sol que no horizonte não dormia...

Mas por fim, cansados,
deixámos os nossos olhos
flutuar nessas águas profundas
e morremos nesse sonho afundado
como um tesouro que não vamos encontrar.

Lembras-te de mim parado
nas margens desse rio?...

Parti sem te conhecer
e vou por onde me esqueço
aos lugares onde nunca pertenci...
Ao mesmo tempo que me libertaste da margem,
tornaste-me prisioneiro do meu regresso
não sei quando, não sei como,
mas é por ti!...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Sono do Menino


O menino está dormindo
naquele berço deitado.
Deixai-o assim estar, sorrindo,
no seu sono descansado.

O que estará ele pensando
nos seus sonhos tão sagrados?
Por certo há-de acordar chorando
se os não vir de olhos acordados.

Não chores, meu menino,
que ao teu lado estou velando.
Enquanto assim fores pequenino
essas lágrimas por ti vou chorando.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Ainda Tens Tempo?





Como eu gostava
que o vento não corresse tão depressa
e apenas ficasse embalando nos teus cabelos
as palavras de amor que em silêncio
os meus olhos te disseram.

Estive tão perto de ti!...

Senti que o teu corpo me pertencia
despido nesse manto de espuma
com que as ondas do mar nos abraçaram nessa ilha...
Nem demos conta que só estávamos os dois,
e de repente a noite já nos tinha abraçado
o espaço que nos separou de um beijo...

Ainda tens tempo?...

É que eu nunca desperto de uma noite igual a essa
sem sentir que estou de novo perdido
nos teus braços!...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pequena Saudade



A noite avança... os meus olhos vão mergulhando num silêncio profundo, e o meu corpo inerte sente aos poucos o abraço do sonho que atenua o peso desta distância que nos separa... E por momentos, passo a existir nesse espaço onde não pertenço, nesse mundo que não conheço, nessa alma que me sustém...

Imagino que eu sou o espírito da tua ilusão e que te guio na liberdade das montanhas, e sou a brisa que passa nos teus cabelos, e sou o poema que ouves em silêncio, e sou o quente do teu corpo dormente por entre o suor dessas ondas salgadas ao fim da tarde... E ando depois contigo de mão dada pela areia, e corro à tua frente sem fugir, e sou esse sorriso do tudo e do nada, e sou simplesmente em ti, a felicidade!...

E hei-de acordar e talvez chorar... não pelo sonho que se finda na cegueira dos meus olhos, mas pela ternura com que esta pequena saudade de ti, conforta a minha alma rendida à grandeza do que és...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Renascer



Deus diz: “O homem não conhece o dia da própria morte: ele é como os peixes, que são apanhados na rede, ou como os pássaros que caem na armadilha. Da mesma forma, o homem é surpreendido pela desgraça que cai sobre ele de improviso” (Eclesiastes, 9,12).

Perante isto oiço perguntar:
Como é possível que o Criador, como resultado de um amor profundo pela sua obra humana, não permita aliviar a incerteza sobre o amanhã? E digo eu: Haverá alguém que gostasse de conhecer o dia e a hora da sua morte?
...

Vamos assumir que eu morri!...

Há-de haver um sítio onde o desfalecimento do meu corpo estará marcado no chão, como lembrança ou esquecimento para alguém. Eu acredito que estarei mesmo morto, e que não tenho nenhuma parte de mim a flutuar através de um espírito em lugar algum. Para mim, é fácil assumir isto.

Porém, há outra certeza que representa a minha fé. Esse sono poderá parecer-vos eterno, mas no cumprimento da promessa do Criador para o fim destes dias, eu hei-de renascer no imediato segundo ao da minha morte. Não terei sentido o tempo passar, seja ele qual for, e abrirei os olhos e farei parte da construção de um novo mundo.

Mas hoje ainda estou vivo, com a mesma incerteza sobre este amor à vida, que tenho sobre a esperança na morte!...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Por Que Te Chamo...



Terias coragem de arrancar
a última flor de um jardim?,
pisar com os pés o chão
sobre o qual as pedras dormem?,
lançar no silêncio mil palavras
onde o canto das aves se escuta?

Terias coragem de fugir do medo
se soubesses que eu lá estava prisioneiro?,
negares na multidão com teus lábios
à minha alma a tua amizade?

Serias capaz de abraçar a minha dor
se em troca eu pedisse a tua alegria?...

Por saber o que dizes
é que te chamo minha amiga,
e embora não pareça muito importante,
a verdade é que o mundo sem ti
seria diferente!