
A minha ausência
ainda não tem na tua boca
o sabor das madrugadas
onde o teu corpo me procurasse,
e o vento nos libertasse
esse grito em nós contido
do fogo que arde e não queima
o segredo que em nós teima
nascer a morrer proibído.
Eu passo em ti
como passa o vento
nos ramos da flor selvagem:
depressa,
devagar,
por um momento,
às vezes nunca...
Mas desejo ser a tempestade
nas tuas lágrimas desfeita,
ser a espuma em liberdade
e à tua pele pertencer,
ser o suspiro dessa noite ao luar
e ser o nada nos teus sonhos a voar,
ou apenas ser...
Eu ainda não nasci dentro de ti,
no entanto, já te pertenço!...
E vives o teu tempo
onde sem tempo
me esqueceste,
e chorará a tua ternura
a minha ausência
se sentires, porventura,
que me perdeste.